A Zona de Intervenção Florestal (ZIF) de Aldeia do Mato comemorou 10 anos este sábado, 13 de outubro. Uma “luta” que começou muito antes, em 2005, após o grande incêndio que devastou a zona norte do concelho de Abrantes e que foi aprovada e publicada em Diário da República em agosto de 2008.
Um dos nomes que esteve ligado a este processo de constituição da ZIF foi o de António Cruz, na altura presidente da Junta de Freguesia de Aldeia do Mato. “Não há dúvida nenhuma que o processo foi muito difícil no início, a começar pelos serviços do Ministério da Agricultura”, explicou António Cruz que acrescentou que esses serviços “desconheciam a lei”. “Essa lei foi aprovada em agosto de 2005, altura em que houve o incêndio, e começámos imediatamente, em outubro desse ano, a fazer todo o processo de constituição da ZIF. Foi difícil porque era desconhecido, quer das entidades oficiais quer dos próprios proprietários florestais”.
Na altura, a ZIF de Aldeia do Mato arrancou com “cerca de três dezenas de proprietários florestais”. Mas, como explicou António Cruz, “logo que começámos a ter algum trabalho visível no terreno, foram aderindo mais e as coisas começaram então a evoluir positivamente”.
António Cruz vê a ZIF de Aldeia do Mato “com alguma perspetiva de futuro mas também com alguma desilusão perante o que aconteceu o ano passado”, referindo-se ao incêndio que afetou a zona intervencionada.
Gonçalo Pessoa foi o engenheiro que embarcou “nesta aventura”, ao lado de António Cruz. Hoje, afastado profissionalmente dos temas da floresta, olha para a ZIF de Aldeia do Mato “com muito orgulho”.
Lembrou que “foi um trabalho muito difícil de arrancar, era tudo uma novidade pois as pessoas não estavam por dentro do que era uma ZIF”. Recorda os mitos na altura em que “uma ZIF era igual a uma Reforma Agrária. As pessoas tinham medo e achavam que iam ficar sem os seus terrenos. Teve que haver um trabalho de desmistificação junto das pessoas, muito por parte do engº Cruz, e se chegámos a bom porto em 2010 foi muito por casmurrice dos dois”.
“Foram muitas horas passadas no carro à noite, à porta das pessoas e muitos quilómetros percorridos”, recorda com um sorriso nos lábios. “Independentemente de todas as vicissitudes que aconteceram na ZIF ao longo de todos estes anos, e dos inevitáveis incêndios, é com muito orgulho que eu vejo que, ao fim destes anos, cá estamos todos com uma coisa que é real”, acrescentou Gonçalo Pessoa.
Gonçalo Pessoa e António Cruz
André Nunes, da Gestiverde, entidade gestora da ZIF desde 2012, “oficialmente”, fez um balanço destes anos e lembrou “que o mais importante que a ZIF poderá celebrar é o facto de ter unido todas as pessoas num desígnio único que é a gestão do espaço florestal destas freguesias”.
O incêndio do ano passado “podia colocar em descrédito todo o trabalho que foi feito mas se passearmos um pouco pela área da ZIF, percebemos que, onde havia intervenção, já cumprindo os procedimentos legais, as boas práticas e tudo mais, foram as zonas mais resilientes ao fogo. Houve zonas onde o fogo passou mas a floresta ficou. Esperemos que esses bons exemplos que foram já fruto deste trabalho dos últimos anos, que as pessoas os aprendam e continuem a multiplicá-los”.
Mas mais importante agora é olhar para o futuro e na ZIF os trabalhos estão a ser feitos, pois “já pusemos as mãos à obra. Nós, os madeireiros, os proprietários...”
No pós incêndio, concretamente, André Nunes afirmou que “infelizmente”, por ter sido de grande dimensão, “tivemos acesso a fundos para estabilização das encostas, para beneficiação de algumas linhas de água, de alguns troços mas não tanto quanto nós gostaríamos – esse vai ser um trabalho que realizaremos à posteriori – mas estamos a desassorear linhas de água, a retirar inertes, pois há muita madeira queimada...”
Quando a Gestiverde iniciou a gestão, a ZIF de Aldeia do Mato contava com 96 proprietários aderentes, das freguesias de Aldeia do Mato e Rio de Moinhos e, neste momento, já se procedeu ao alargamento a toda a freguesia de Martinchel, contanto atualmente com 340 proprietários florestais.
Olhando para um futuro a longo prazo, “interrompendo esse ciclo negro dos incêndios”, André Nunes considera que se poderá voltar a olhar para a floresta como um meio rentável e capaz de criar postos de trabalho, “ajudando a fixar populações”.
O engenheiro florestal também gostava que “se quebrassem alguns mitos sobre as espécies”. Explicou que “nós conseguimos ter áreas de sobreiro e podíamos ter mais áreas de pinho mas infelizmente foram das que mais sofreram com os incêndios. Quisemos ter uma iniciativa no Verão de candidaturas para rearborizar áreas de pinhal mas tivemos um problema técnico de avaliação na União de Freguesias de Aldeia do Mato. Esperamos que venha a ser ultrapassado até ao fim do ano”.
Consciente de que as rearborizações em curso são, na sua grande maioria, de eucaliptos, André Nunes reparou também que “muitas delas já seguem todas aquelas doutrinas que emanam da lei e para as quais vamos alertando”.
“Mas obviamente que estamos a trabalhar para criar interstícios com outras espécies no meio deste maciço de eucaliptos. Estamos a falar de espécies diversas como o medronheiro, sobreiros, carvalhos... não com a dimensão que desejaríamos mas já são relevantes. E acredito que, à semelhança do que foi o crescimento dos aderentes, que à medida que se vá mostrando o trabalho e a pertinência do mesmo, que as pessoas vão aderindo” a estas práticas.
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