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Juntos Pelo Mundo Rural

Mundo Rural avisa: "Ou somos ouvidos ou regressamos num dia de semana e entupimos Lisboa" (C/ÁUDIO e FOTOS)

5/06/2021 às 21:40
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O protesto “Juntos pelo Mundo Rural”, que hoje reuniu várias centenas de pessoas em Lisboa, demonstrou que o setor fala a “uma só voz a partir de agora”, realçou um dos organizadores.

E o presidente da Associação Juntos Pelo Mundo Rural foi claro no seu discurso perante as centenas de manifestantes: “ou nos ouvem, ou voltamos brevemente”. E foi claro ao dizer que da próxima vez que o Mundo Rural voltar a Lisboa virá com outras formas de luta. “Da próxima vez vimos num dia de semana, sem dia para regressar. Na próxima vez fechamos Lisboa. Está na hora de nos ouvirem. Exigimos respeito. Respeito pelo mundo rural”.

Organizada pela Pelo Mundo Rural - Associação Ibérica de Defesa da Caça, Pesca, Tradições e Mundo Rural, [com sede social em Abrantes] a marcha, que começou na praça do Marquês de Pombal e terminou em frente à Assembleia da República, pretendeu juntar os diversos setores ligados ao mundo rural, que “estão a sofrer” com as “políticas proibicionistas” impostas pelo Governo, disse Luís de Gusmão.

No final da manifestação efetuada em frente à Assembleia da República, com a rua fechada ao trânsito assim como os acessos ao Parlamento, o presidente da associação ibérica destacou “o mar de gente”, que “veio de todos os pontos do país”. Foram muitos autocarros que saíram de Trás-os-Montes ao Algarve, frisou o dirigente para exemplificar a representatividades que esteve presente nesta tarde em Lisboa.

Os manifestantes – de todas as idades e diversas geografias, a notar pelos sotaques – fizeram um protesto mais barulhento que palavroso – à conta de buzinas, cornetas, vuvuzelas e até os búzios, característicos dos matilheiros de cães de caça.

Seguiram, com distanciamento, grupo a grupo – juntos pela pesca, pela caça, pela tauromaquia, pela pecuária. Todas as áreas de um Mundo português que uns quantos deputados de Lisboa não podem fazer parar. Luís Gusmão foi muito claro quando revelou que todas as tradições representadas nesta manifestação movem o mundo do interior, as zonas de baixa densidade populacional que as gentes da cidade não conseguem entender. E não sendo uma crítica velada, é o tónico de que há muitas pessoas que andam em movimentos e lutas que não conhecem a verdadeira essência do que é o mundo rural.

À passagem da Casa-Museu Amália Rodrigues ouviu-se um sonoro aplauso e um “viva” em memória da fadista.

Antes, tinha estourado um petardo, de imediato censurado. “Isso é que não…”, desabafou o elemento mais vocal da cabeça da manifestação, que desviou o assunto com mais um “viva o mundo rural” e espevitou os manifestantes: “como é, está tudo a dormir?”.

Cartazes com fotografias de cães de várias raças eram o adereço de muitos e numa das faixas podia ler-se: "Respeitem o nosso modo de vida, tradições e costumes".

“A liberdade de gosto é para todos os portugueses. Todos temos direito de gostar de tauromaquia, todos temos direito de gostar de caça, todos temos direito de gostar de pesca”, reclamou Luís Gusmão.

“Os nossos agricultores têm de ser apoiados para poderem produzir. A agricultura é que sustenta Portugal. E temos sempre, todos os dias, nesta casa da democracia, políticas proibicionistas contra nós”, criticou, apontando para a Assembleia da República.

Em concreto, mencionou a proibição do tiro ao voo, “modalidade secular” que motivou a associação a apresentar “um processo-crime” contra os deputados do PAN.

“O PAN é um dos nossos alvos”, reconheceu o presidente da associação ibérica, garantindo, porém, que “todos os partidos” que “ataquem” qualquer setor do mundo rural receberão uma resposta conjunta.

“É um por todos, todos por um. É uma só voz a partir de agora”, prometeu, deixando no ar que “a próxima vez será muito, mas muito, diferente”: chegarão durante a semana, “sem data para regressar”.

Quanto à queixa-crime que a Associação apresentou contra os deputados do PAN o dirigente revelou que a mesma foi aceite pela Procuradoria Geral da República, que vai agora pedir o levantamento da imunidade parlamentar destes deputados. Mas deixou o repto para que sejam eles a levantar a imunidade e expliquem, ou justifiquem, “as mentiras que disseram sobre o tiro ao voo” e que, na ótica da Associação, merecem ação judicial. “Não se escondam”, desafiou o dirigente.

Luis Gusmão, presidente da Juntos Pelo Mundo Rural

Na carrinha que serviu de palanque para os discursos de três dirigentes da Associação coube a Diogo Durão, forcado amador e representante do setor tauromáquico, exigir do governo o IVA a 6% e os vouchers como acontece com o apoio pós-pandemia para a cultura. E depois vincou a ideia de que este é um setor que tem muita história e tradição, desde o século XII, pelo que não pode agora, de um momento para o outro, ser extinto por uma “minoria que assim o entende”.

Manuela Ruivo foi a voz dos pescadores, caçadores, agricultores, produtores florestais e de todos aqueles que produzem no mundo rural para abastecer o país e as cidades. E ao longo da tarde, uma das grandes tónicas teve a ver com o fato de haver muitas pessoas que “embarcam nestes extremismos” sem saberem o que é e o que se faz no mundo rural porque, diz um dos manifestantes, “o leite ou a carne vem do supermercado”.

Manuela Ruivo vincou a ideia da liberdade que se tem no mundo rural, onde as pessoas vivem em comunhão com os animais e com os vegetais, tendo destacado que o “cheiro das madressilvas” é algo que só quem o vivencia pode apreciar.

E naquilo que são os grandes objetivos da Associação Ibérica, Juntos Pelo Mundo Rural, há uma defesa de todos os setores. Luís Gusmão deixou claro que esta é a voz em uníssono de um mundo, de vários setores, de muitas pessoas, de muita economia. E que querem representar todas as associações, federações ou confederações.

“Nós somos completamente apartidários e aplaudimos apenas políticas que sejam a favor do mundo rural”, sublinhou o presidente da Associação Ibérica, rejeitando qualquer ligação ao Chega, partido inscrito na máscara de pelo menos um manifestante e na cabeça de outro, que perguntava: “Então e o Ventura, não vem cá hoje?”.

“Todas as pessoas que aqui estão são apartidárias, são livres de ter o seu partido, mas nunca, de forma alguma, tentem juntar o partido Chega a esta associação, porque isso não é verdade”, retorquiu Luís Gusmão.

Na conclusão, Luís Gusmão reafirmou: “respeitamos quem não pensa desta forma [do mundo rural]. Queremos que nos respeitem tal qual nós o fazemos”.

Antes do fecho da manifestação houve o desejo do bom regresso a casa. Mas antes André Grácio deixou o pedido aceite de imediato, fechar a iniciativa com o Hino Nacioal. 

Mas ficou a ideia clara de que se o movimento não for ouvido haverá nova manifestação e, desta vez, disse Luís Gusmão, virá o Mundo Rural com as suas máquinas de trabalho, referindo que “voltamos num dia de semana e fechamos Lisboa”.

Jerónimo Belo Jorge c/ Lusa