Pesquisar notícia
quinta,
28 mar 2024
PUB
1

Festas Constância: Movido pela fé e devoção a Nossa Senhora da Boa Viagem

18/04/2019 às 00:00
Partilhar nas redes sociais:
Facebook Twitter

Tem 71 anos, nasceu “numa pequena aldeia que se chama Foz do Rio, que é onde termina o rio Nabão”. Atualmente, reside na Linhaceira, no concelho de Tomar. Falamos de António Oliveira Lopes, umas das caras mais fotografadas e conhecidas da Festa de Nossa Senhora da Boa Viagem.

O seu barco, bem engalanado, transporta sempre a imagem de Nossa Senhora da Boa Viagem e António de Oliveira Lopes faz questão de vir trajado a rigor, com o seu fato de pescador.

A sua ligação com Constância vem de longe. “Há 60 e tal anos, os meus pais e os meus avós amanhavam umas terras em Constância. Ficavam onde hoje está o quartel dos Bombeiros, eram as terras das Bretes. Levavam-me dentro de um cesto”, recorda António Oliveira Lopes.

Depois cresceu “e comecei a fazer as coisas à minha maneira. Comecei a arranjar o barco e a vir rio abaixo”. No entanto, já não é tão fácil fazer a navegação pois “na zona da ponte da A23 os pilares não estão direitos, fazem remoinhos e torna-se perigoso”.

É um dos grandes impulsionadores da Festa de Constância e recorda, “nos tempos do antigamente, os meus pais iam a pé para a festa e levavam um cabaz com um galo ou uma galinha. Dantes, as pessoas não iam comer aos restaurantes, cada um levava o seu comer”.

Emocionado, fala da Festa. Considera “que não é um carnaval mas que há muitas pessoas que vão para lá brincar”. Isto porque António de Oliveira Lopes desce o rio e vai à festa por devoção. É a fé em Nossa Senhora da Boa Viagem que o move e não consegue conter as lágrimas ao falar do “dia da Senhora”.

Conta-nos que foi emigrante na Suiça e, “faltavam 15 dias para a Festa de Nossa Senhora da Boa Viagem e eu tive um problema grave de saúde. Foi um AVC que me deu e eu fiquei sem consegui falar. Na minha cabeça só pensava que faltavam 15 dias para a festa e eu não ia conseguir vir. Nesse dia tiraram-me líquido das costas e eu pedi ajuda a Nossa Senhora da Boa Viagem. No dia seguinte, nem os médicos queriam acreditar. Eu não tinha nada. Não estava coxo e falava normalmente. Vim à festa”.

As histórias relacionadas com a Festa de Constância sucedem-se em catadupa. São muitos anos e muitas coisas a contar. Até aquele ano “em que o rio subiu e eu tinha o barco ancorado nos salgueiros em frente à Casa-Memória de Camões. Faltavam meia dúzia de dias para a festa e o barco abalou rio abaixo. Pois nessa meia dúzia de dias eu arranjei um barco. Fui buscar a madeira, construi-o e pintei-o”. Quer para a ornamentação do barco, quer no traje, conta sempre com a ajuda da esposa.

Tem carinho por todos os que ajudam a fazer a festa, como “o Mendes, o Máximo, a Amorim, agora o Sérgio, a professora Olga, o Rui Ferreira, a Filipa Montalvo” mas, acima de tudo, pelo “amigo padre Nuno”. E sabe que todos também sentem carinho por ele.

Praticamente, sou um filho de Constância”, desabafa, novamente com as lágrimas a aflorarem-lhe no rosto. Considera que “as pessoas de Constância já não vivem a festa e podiam-lhe dar mais um bocadinho de brilho. Falta o orgulho de outros tempos”. E confessa que a ida à Festa de Nossa Senhora da Boa Viagem é para fazer “até que eu possa”.

Patrícia Seixas