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Festas Constância: “Esta é a minha prova!” - Filipa Moutinho

12/04/2019 às 00:00
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Só quero ser um exemplo. Se eu consegui, qualquer um consegue”. São estas as primeiras palavras de Filipa Moutinho, 36 anos.

Natural de Abrantes, viveu em Constância, depois nas Madeiras, no concelho de Vila Nova da Barquinha e, atualmente, está no Entroncamento. No entanto, “é em Constância que continuo a fazer toda a minha vida”.

A primeira participação no Grande Prémio da Páscoa em Atletismo foi em 2011, “foi a minha prova madrinha”.

Mas esta história começa muito antes, até porque a Filipa confessa que “detestava correr”. “Na escola, adorava Educação Física mas correr, detestava. Qual era a piada de andar a correr? Não tinha piada nenhuma”.

Então como começa a participação em provas de atletismo? - questionamos. “Eu já era utilizadora do ginásio de Constância mas não tinha cuidado nenhum com a alimentação. Cheguei ao cúmulo de, em fevereiro de 2010, ter 71 kg. É quando nasce a minha sobrinha” e é quando a “reviravolta” se dá. “Eu queria que ela visse nesta tia um exemplo e queria ter saúde para a acompanhar”.

Filipa começa então a ter mais cuidado com a alimentação e descobre que, no ginásio, “tinha bons resultados a correr na passadeira”. “Corria imenso na passadeira e comecei a correr na rua. Havia dias em que fazia 20 km's de manhã, ia trabalhar e, ao final do dia, mais quatro horas de ginásio... de fevereiro a agosto, perco 21 kg's”, conta, deixando-nos de boca aberta.

Quanto à participação na prova de Constância, “foi provocada lá no ginásio. Diziam-se: tu corres tanto, porque é que não participas? E eu pensava, Deus me livre, aquilo é para grandes atletas... o que é certo é que me inscreveram”. E foi 24ª da geral, 7ª Sénior com o tempo 45'46''.

Desde aí, tem participado em várias provas. Fundo, velocidade, corta-mato, pista ou estrada... correr é com ela.

Participava como individual mas, no ano de 2012, na prova do 25 de abril, no Entroncamento, que venceu, um clube da região abordou-a e recrutou-a. Neste caso, foi a Zona Alta de Torres Novas mas já passou pelo Núcleo Sportinguista de Torres Novas, Casa do Benfica de Abrantes e, atualmente, é atleta do União de Tomar.

Já foi campeã e vice-campeã distrital em corta-mato, pista e em estrada.

A nível nacional, “o ano passado fui medalha de bronze em veteranos” no Campeonato Nacional de Corta Mato, que decorreu em Monforte. Também em 2018, participou na 13ª Corrida do Benfica António Leitão. Conquistou a medalha de prata e aí, partilhou o pódio com “um ídolo”. “Quando cortei a meta em segundo lugar, vejo, incrédula, que em terceiro, tinha ficado a Dulce Félix. Cheguei ao pé dela e pedi-lhe desculpa. Era surreal, eu nem acreditava que aquilo estava a acontecer. A Dulce abraçou-me e disse que eu não tinha nada que pedir desculpa porque o mérito era inteiramente meu. Ela também estava a recuperar, tinha sido mãe há quatro meses”, relembra.

Apesar da carreira e dos troféus que tem conquistado ao longo dos anos, Filipa Moutinho não os encara como tal. “Os troféus estão todos no sótão. Não me fazem sentir superior a ninguém”.

Mas nesta história, nem tudo são rosas nem momentos felizes.

Em 2017, no Grande Prémio da Páscoa em Constância, vinha, pela primeira vez, em 1º da geral e, do km 7 ao km 8, eu corri inconsciente. O que vou dizer, contaram-me porque eu não me lembro. Pediram-me para parar mas eu respondia e dizia que queria acabar. Até ao ponto em que tiveram mesmo que me estender no chão. Colocaram-me numa ambulância e entrei em convulsões. Foi das piores sensações que tive”. Filipa sofre de hiperidrose compensatória e, “na altura, não tomava suplementos”.

Por recomendação médica, foi sugerido que acabasse de vez com as corridas. “Voltei a correr dois meses depois e, na prova dos Ferroviários, no Entroncamento, acontece-me o mesmo. Estava imenso calor. Fiquei inconsciente mas não foi tão mau como em Constância”.

Depois de dois casos, como é que se toma a decisão de voltar a correr? – queremos saber. “Não foi fácil. Sofri bastante psicologicamente. Agora já tomo suplementos e está mais controlado”. Mas claro que “tenho medo”. “Tive que voltar a ganhar confiança, primeiro no ginásio com as voltinhas na passadeira e depois cá fora”. No entanto, “agora, cada vez que termino uma prova, tenho imediatamente que ligar para casa a dizer que estou bem. Há sempre a preocupação”.

Diz que não é competitiva e que a pressão do “ter que ganhar”, que amigos e familiares lhe pediam, lhe custava muito. “Eu tive que voltar a gostar de correr e corro porque me dá prazer. Se for obrigada, não me interessa”.

E em Constância, “sinto muito mais pressão. Estão os meus familiares, estão os meus amigos e eu sei que eles ficam felizes e esperam sempre que eu ganhe, apesar de eu lhes dizer que o objetivo não é ganhar. Mas tento sempre dar o meu melhor porque sei que eles ficam contentes”.

Para Filipa Moutinho, o que torna especial o Grande Prémio da Páscoa em Constância, “para além de estar englobado nas Festas do Concelho, festas que eu vivo e sinto desde pequenina, é a própria prova em si. É a envolvência com o rio e a paisagem e, depois da prova, o convívio que há nas tasquinhas”.

Para a atleta, a prova de Constância ainda tem por onde evoluir “e eu gostava de ver esta prova num patamar ainda mais elevado, com mais atletas de renome. Temos vindo a diminuir o número de participantes e eu tenho muita pena que isso esteja a acontecer”.

Quanto a expetativas para a prova deste ano, é perentória: “chegar ao fim”. “Esta é a minha prova!” No ano passado, conseguiu o 1º lugar do escalão mas “passar ao 8º km não foi fácil. Tive que me superar a mim própria”.

Para este trabalho do JA, pedimos à Filipa que nos enviasse algumas fotos por email. Recebemos fotos, classificações e, no final do email, a Filipa Moutinho relembra-nos que “tudo isto só faz sentido, porque tenho na minha vida uma sobrinha maravilhosa, família e amigos verdadeiros que estão sempre do meu lado, que me incentivam, desafiam e nunca me abandonam. Nem sempre estou tão presente nas suas vidas. Ouvem tantas vezes: "Não posso, tenho prova" ou "não posso, tenho treino"... E a maneira que tenho para os "compensar" é dar sempre o meu melhor em todas as provas. Os pódios e troféus são deles, até porque, a atleta Filipa Moutinho só existe graças a eles”.

E digam lá que não conhecemos uma pessoa maravilhosa?!

Patrícia Seixas