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"Criando sustentabilidade para a vida na Terra”

20/03/2019 às 00:00
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Tânia Carrilho e Margarida Moreira, as tomarenses que trouxeram para a região a WEF, um evento internacional 

A segunda edição portuguesa da Women Economic Forum (WEF) realiza-se este ano em Tomar, de 22 a 24 de março. Portugal já recebeu a WEF no Estoril, em 2017, e Tomar teve uma pequena amostra deste cariz, com a conferência Mulheres Bordadoras de Sonhos. Esta edição é a primeira na Europa com esta dimensão. Participam no evento largas dezenas de pessoas, de cerca de 30 países. O tema é “a mudança sustentável em todas as áreas, no que toca na igualdade de géneros, no que diz respeito a oportunidades sociais, não só na igualdade de género como noutras áreas que existem desigualdades”.

Nesta entrevista com a organizadora do evento, a vice-presidente da All Ladies League Portugal e presidente da All Ladies League de Tomar, Tânia Castilho, explica como se organiza um evento sobre sustentabilidade recorrendo a parcerias e ao voluntariado. “Começou com o convite em 2017 para ir à Índia à conferencia anual WEF, que acontece em Nova Deli”, conta orgulhosamente Tânia, sempre de sorriso no rosto e deveras entusiasmada.

A designer Margarida Moreira, é licenciada em Design Gráfico pelo Instituto Politécnico de Tomar e também pertence à ALL. Está envolvida na coordenação e organização deste evento e juntou-se à conversa. Margarida é uma grande defensora da sua cidade, Tomar, “eventos em Lisboa e Porto era só mais um e aqui vai marcar a diferença”.

O extenso programa da WEF conta com dezenas de participações internacionais inserindo a temática da sustentabilidade em áreas como a educação, a arte, a arquitetura, a economia e o bem estar. Várias atividades paralelas, como uma feira de sustentabilidade e momentos musicais, marcam os três do evento. Catarina Furtado, Fernanda Ribeiro (“a atleta portuguesa mais medalhada em termos de atletismo”) e Viriato Soromenho Marques (“uma grande figura também na área da filosofia e no desenvolvimento económico”) são algumas das figuras de destaque. “Temos também vários jovens interessantes que vêm receber um reconhecimento pelo seu empreendedorismo.”

Como começou a ideia deste projeto?

Tânia: Começou com o convite em 2017 para ir à Índia à conferência anual Women Economic Forum (WEF) que aconteceu em Nova Deli. Esta é organizada pela associação internacional All Ladies League, com mais de 100 mil membros a nível internacional e em cerca de 150 países. O convite inicial foi para receber um galardão de reconhecimento pelo meu trabalho. Em 2018 levámos lá uma delegação portuguesa e comprometemo-nos em organizar a WEF Portugal.

O evento funciona com voluntariado? Como foi o processo das inscrições?

Tânia: As pessoas enviaram-nos um mail, nós enviámos um link onde preencheram um formulário, escolheram os dias e as horas que querem ser voluntários. Nós depois enviámos um acordo, são todos cobertos pelo seguro através da Câmara Municipal. E temos um projeto de voluntariado muito giro que é o dos voluntários interpretes.É muito mais produtivo e rico assim do que seria da outra maneira. O facto de não haver recursos faz com que tenhamos de ser muito mais inovadores e envolver e oferecer novidades a muito mais gente.

Que dificuldades tiveram na organização do evento?

Tânia: As maiores dificuldades têm a ver com a falta de recursos e ter que angariar apoios e parceiros, não só a nível monetário, mas a nível da implementação do evento. Este é um evento que tem muitas áreas distintas. É uma conferência de três dias em que tem uma sala plenária gigante, temos e teremos mais três salas paralelas a decorrer ao mesmo tempo. Para além disso temos um programa para crianças para quem as queira deixar para poder participar, temos de tratar do catering, temos os coffe breaks e temos os almoços de sexta, sábado e domingo e um jantar de gala templário que requer não só a própria refeição em si, como toda a decoração e todo o trabalho que isso envolve.

Temos momentos artísticos, como por exemplo a ida da ESTATuna e outros artistas que estarão presentes das associações locais que vão dançar, cantar, tocar, tornar o evento ainda mais rico e colorido. Temos uma feira de sustentabilidade criativa em que temos diferentes stands com propostas de projetos, serviços, produtos dentro da área da sustentabilidade, mas vista de uma forma muito ampla. Temos o concurso “Jovens para o mundo sustentável hoje” que teve de ser criado, divulgado, julgado. Não é só uma conferência, é muito mais que isso, o que traz dificuldades, mas nós não as vemos como obstáculos, vemos sempre uma oportunidade.

Por que é que foi escolhida para o projeto?

Tânia: Pelo meu trabalho precisamente, por esta naturalidade voluntária de criar projetos que sejam amplos, que abranjam e eduquem a um nível cada vez mais vasto. Esse trabalho de empreendedorismo social merece esse reconhecimento quando de facto é algo que faz muita diferença na vida de muitas pessoas e especialmente na vida de jovens. O trabalho é muito virado a trazer oportunidades aos jovens para eles perceberem que são os líderes hoje e não só amanhã.

O projeto começou na Índia, sabemos quais são as dificuldades a nível de género e sustentabilidade ambiental. Quais são os problemas aqui em Portugal?

Tânia: A All Ladies League tem uma forte tónica no empreendedorismo feminino, tendo começado na Índia percebe-se que há de facto ainda muito trabalho a fazer, não só na Índia, como em muitos países e até em Portugal. A sociedade portuguesa é extremamente patriarcal, trazer esta oportunidade para a mesa, de haver um equilíbrio entre géneros, não é dizer que as mulheres são melhores em coisa nenhuma. Não tem nada a ver com isso. É dizer que nós também estamos aqui e queremos ser vossos parceiros em igualdade de circunstâncias e oportunidades. Trazer esta oportunidade a Portugal é excelente, há de facto ainda muito trabalho a fazer na nossa área, de o homem comum ver a mulher como outro igual. As mulheres não têm de ser iguais aos homens, só iguais em termos de oportunidades.

Margarida: E vamos ter muitas particularidades no próprio evento, nós tivemos desafios. Por exemplo, vamos diminuir o plástico, vamos diminuir o papel, vamos diminuir essas coisas todas. E tudo foi desafios que fomos superando. Não vamos ter copos de plástico, não vamos ter pratos de plástico, os nossos coffe breaks vão ser muito diferentes, vão ser sustentáveis a nível da própria comida, evitando a comida processada.

O que vão ter nesses coffe breaks?

Tânia: Vai ser excelente, mas vai ser surpresa [risos]. Não vamos poder revelar ainda, porque vai fazer parte da diferença que queremos marcar ali. Mas vamos ter show coocking no centro de emprego de Tomar a fazer umas coisas completamente diferentes, comida mais ecológica e sustentável. Isso podemos revelar [risos].

A temática central é o ambiente?

Tânia: Não, é a mudança sustentável. Mas, claro, sendo necessária, a temática do ambiente vai surgir. Mudança sustentável em todas as áreas, no que toca na igualdade de géneros, no que diz respeito a oportunidades sociais, não só na igualdade de género como noutras áreas que existem desigualdades.

Vai haver debates próprios sobre determinados temas?

Tânia: Sim, vai ter muitos temas. Sobre a educação, a mudança na educação e vários outros temas que podem todos ser consultados no programa. Nós não analisamos quem vai falar, tirando os nossos convidados. Nós não acreditamos que uma pessoa que não se ache competente se vá expor a dizer meia dúzia de disparates. Não é fácil falar em público, para uma pessoa se inscrever e decidir falar tem de sentir confiança suficiente no que tem para mostrar é porque tem qualquer coisa para dizer.

Esta chancela do feminino pode afastar como speakers ou como participantes?

Tânia: Não, muito pelo contrário. Até sentimos que é um desafio interessante, os homens vêm ao evento com muito gosto e sentindo-se até muito honrados por fazerem parte deste evento, sentem que são considerados homens de mente aberta e equilibrados.

Como mulheres, o que o evento trouxe a nível de empreendedorismo?

Tânia: Como mulheres temos muita certeza do nosso valor, não posso dizer que tenha trazido mais ou menos valor, pelo menos para nós em particular. Apesar disso, sabemos que para o público e para a zona onde decidimos fazer o evento, em Tomar, é importante. Em Tomar foram queimadas muitas mulheres na fogueira, por serem consideradas bruxas eram perseguidas pela Inquisição. No fundo, é um revés, agora já não é esse tempo, esse tempo já acabou e vamos esquecer. Vamos de facto dar valor à sabedoria feminina, porque bruxo quer dizer sábio. As mulheres mais sábias eram queimadas na fogueira, agora é altura de sermos todos sábios e termos todos o devido lugar.

Porquê em Tomar?

Tânia: Porque nós vivemos em Tomar, conhecemos quase todas as pessoas e torna-se muito mais fácil alcançar os recursos necessários. Ainda por cima, até temos uma presidente de Câmara feminina. A presidente da Câmara logo na primeira reunião, em outubro de 2017, concordou logo em apoiar-nos. Se não fosse a Câmara não havia nada disto, pois cedem o pavilhão, toda a logística. Foi preciso fazer algum investimento monetário e a Câmara também nos ajudou nisso. Se não fosse a Câmara a estar envolvida nisto, metade dos recursos não estariam disponíveis.

Trabalhámos diretamente com o departamento de Educação da Câmara e temos a colaboração dos agrupamentos escolares, da escola profissional, do centro de emprego e formação profissional e do IPT e da ESTA. Portanto, também é preciso saber escolher os parceiros e claro, não desistir quando recebemos nãos. A Câmara de Abrantes também é parceira do evento.

Escolhemos Tomar por essas razões e porque também é uma cidade simples de alcançar, muito acessível, até mesmo em termos de transportes públicos. Tem a sua vertente turística, sendo também fácil de anunciar a um público estrangeiro. Queríamos principalmente descentralizar, que faz parte da sustentabilidade e da mudança sustentável, descentralizar o poder. A ideia foi trazer este evento, que é poderoso, para uma cidade do interior.

Margarida: Se fosse em Lisboa e Porto era só mais um. Aqui vai marcar a diferença. Uma das partes mais giras é que Tomar é uma cidade relativamente pequena, as pessoas vão poder realmente andar a pé e desfrutar do evento, podem ter calma e não perder tempo no trânsito das grandes cidades.

Estão à espera de quantas pessoas?

Tânia: Entre 200 a 300 e mais de um milhar de visitantes.

Quem estará presente nesta WEF?

Tânia: Vamos ter imensa gente, incluindo a Catarina Furtado, a Fernanda Ribeiro, que é a atleta portuguesa mais medalhada em termos de atletismo, teremos também o Viriato Soromenho Marques, que é uma grande figura também na área da filosofia e no desenvolvimento económico. Temos também vários jovens interessantes que vêm receber um reconhecimento pelo seu empreendedorismo. E muitos outros participantes, portugueses e estrangeiros.

 

Joana Felício e Luís Dias, alunos de Comunicação Social da ESTA