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Presidente da República visitou tetraplégico na Concavada

3/07/2019 às 00:00
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O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, que esteve acompanhado pela secretária de Estado Ana Sofia Antunes, visitou esta tarde o tetraplégico Eduardo Jorge. Marcelo Rebelo de Sousa deslocou-se à aldeia de Ribeira do Fernando, Concavada, para falar com Eduardo Jorge que, desde junho, regressou à sua casa ao abrigo do projeto piloto dos cuidadores.

Eduardo Jorge esteve quatro anos internado no Centro Social da Carregueira, onde trabalha, e desde junho voltou à sua casa, onde é acompanhado pela Patrícia e pela Rafaela, duas das suas cuidadoras. “São as minhas pernas e os meus braços, fazem-me a higiene, levam-me ao trabalho, ao supermercado (…), mas permitem-me ter a minha vida, em casa”, explicou Eduardo Jorge.

Marcelo Rebelo de Sousa aceitou o convite de Eduardo Jorge e veio visitá-lo. Nesta tarde esteve também “a amiga” Ana Sofia Antunes, secretária de Estado da Inclusão das Pessoas com Deficiência. Eduardo acolheu os convidados e fez questão de mostrar a sua casa à governante [que é cega]. Descreveu ao pormenor a entrada, a sua horta, as flores, as árvores de fruto. Marcelo mostrou conhecimento de flores quando conversavam sobre um jasmim que estava mais murcho. Depois de dar a volta à casa, Eduardo Jorge quis descrever a forma como a sua cadeira lhe permite “deitar-se” para ficar na horizontal. Disse que muitas vezes à noite é ali que fica a ver as estrelas ou a olhar os riscos dos aviões. Comentou que até tem um telemóvel com uma aplicação que lhe permite seguir as rotas os aviões: “Assim posso viajar com eles, lá em cima”.

Depois desta volta entraram, mais a sós, dentro de casa onde o tetraplégico explicou a sua vida ao Presidente e restante comitiva.

Quando saíram, e em declarações aos jornalistas, Marcelo Rebelo de Sousa revelou que este projeto está a avançar, “é uma bola de neve, vai abranger cada vez mais pessoas e é irreversível. É uma opção da vida e muito justa”. Vincou ainda que “quando se sonhou com uma democracia, também social, sonhou-se a pensar neste tipo de justiça”.

O Presidente da República vincou que aceitou um convite do Eduardo Jorge para o visitar em casa: “Foi um convite dele. Como sabem, ele é muito autodeterminado, muito livre, muito independente. A senhora secretaria de Estado já o conhece há muito tempo [eu conheço-o há menos], mas foi bom vê-lo mais feliz, a trabalhar com a senhora secretária de Estado e todos os que apoiam esta causa”.

Marcelo revelou também que este Portugal [mais no interior] é igual a tantos outros e acrescentou “que a ideia que há Portugais de primeira, de segunda e de terceira não faz sentido à luz da democracia portuguesa”.

A secretária de Estado da Inclusão de Pessoas com Deficiência, Ana Sofia Antunes, explicou que este projeto-piloto “Modelo de Apoio à Vida Independente”, que coloca cuidadores 16 horas por dia na vida do Eduardo Jorge, “tem 17 centros em total funcionamento, de um total de 35 que vão existir. De um total de 870 beneficiários identificados estaremos a chegar, neste momento, a cerca de 400 pessoas”.

Eduardo Jorge agradeceu a presença do Presidente, apesar da informalidade, ao que Marcelo respondeu que já estiveram juntos de forma ainda mais informal. Questionado sobre se valeu a pena, disse que não quer ir por essa via. “Faço o que tem de ser feito e as consequências aparecem, ou não”. Eduardo Jorge vincou que este é um projeto-piloto, que ainda não pode chegar a todos. Houve a necessidade de uma candidatura. “Candidatei-me e tive 16 horas”. Mas adiantou que só depois de começar a “mostrar” o projeto é que houve conhecimento do mesmo. Mas se as pessoas não se inscreverem não podem ser beneficiados. “Claro que fico angustiado por ver pessoas que precisam e ainda não têm”, confessou Eduardo Jorge, ao revelar que se sentiu mal com a exposição que teve aquando do protesto: “senti-me como um animal numa jaula”.

À chegada, na estrada principal, Marcelo Rebelo de Sousa cumprimentou as dezenas de cidadãos que o aguardavam e que fizeram questão de lhe oferecer um cabaz de produtos da terra. Da agricultura da Ribeira do Fernando.

Recorde-se que no início de dezembro do ano passado, Eduardo promoveu um protesto junto à Assembleia da República, fazendo greve de fome dentro de uma gaiola criada para o efeito. Numa placa, colocada junto ao local onde estava, podia ler-se “Aqui jaz Eduardo Jorge”.

O objetivo, na altura, era promover a discussão sobre o direito a que pessoas com dependência possam ter cuidadores e, na altura, Marcelo Rebelo de Sousa foi a São Bento para falar com Eduardo Jorge.

Foi depois da visita de Marcelo Rebelo de Sousa que Eduardo Jorge colocou um ponto final ao seu protesto, em frente ao Palácio de S. Bento.

Eduardo Jorge ficou tetraplégico aos 29 anos, após um acidente de automóvel.

Eduardo Jorge vive na Ribeira do Fernando, e trabalha como diretor Técnico da valência de Centro de Dia no Centro de Apoio Social da Carregueira, Chamusca.