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Educação

Mação: Restaurante Pedagógico desperta o paladar com viagem gastronómica pela cozinha de excelência (C/FOTOS)

30/10/2019 às 00:00
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20h00. Sede do Agrupamento de Escolas Verde Horizonte, em Mação. Ouve-se um burburinho dentro de portas e entramos para satisfazer a curiosidade.

Somos recebidos numa sala ainda a compor-se de gente. Entre dois dedos de conversa e sorrisos espontâneos, desviam-se os olhares e prendem-se as atenções nas bandejas repletas de pequenos aperitivos que começam a chegar, elegantemente servidos por profissionais, em jeito de despertar os sentidos para aquilo que a noite reserva.

Enquanto uma mão se ocupa em escolher qual das iguarias ousa saborear primeiramente, a outra é levada a aceitar a sugestão de um suave flute de champanhe com aroma de pêssego.

Os aperitivos servidos pelos "funcionários" do restaurante pedagógico não passaram despercebidos aos convidados, que quiseram experimentar cada especialidade

Entre expressões faciais que atestam a qualidade e demonstram a surpresa pelo resultado final das combinações degustadas, a experiência chama-nos a entrar no lugar onde o baile de sabores, aromas e cores está prestes a começar.

Entramos no “restaurante” e somos recebidos por funcionários vestidos a rigor cujo à vontade e sorriso na cara nos transmitem a segurança de que a viagem gastronómica vai ser algo de que não nos vamos arrepender.

A simples mas elegante decoração envolve-nos imediatamente num ambiente intimista, onde o requinte e a elegância marcam presença para fazer jus à estrela da noite: a cozinha e a pastelaria.

Começamos pela segunda ronda de aperitivos. Foie gras com suspiro, sonho de ovas e folhadinhos de lentilhas.

À entrada no restaurante, a elegância da decoração e das entradas servidas despertaram a curiosidade daquilo que ainda estava por vir

Aviva-se o paladar e chegam os funcionários que nos dão a escolher entre pão de sementes ou pão de vinho tinto.

As expectativas começam a elevar-se para os convidados e eis que se baixam as luzes e se ajeitam os xailes, porque chegara a hora de tornar o serão ainda mais especial: silêncio, que se vai cantar o fado.

Ao longo da noite, pelas vozes das fadistas e ex-alunas do agrupamento Beatriz Pereira e Francisca Correia, acompanhadas ao som das cordas por José Catarino e Manuel Correia, percorremos nomes grandes da música tradicional portuguesa como Amália e Ana Moura.

De xaile aos ombros, a fadista e ex-aluna Beatriz Pereira foi a primeira a atuar

Francisca Correia, também ex-aluna, completou a noite, com fados que não deixaram os convidados indiferentes

Com todos os sentidos apurados, é-nos apresentada a entrada principal. Uma cornucópia invertida que pousa de forma aprumada sobre um ceviche de peixe e manga, num prato pintado com fios de chocolate e folhas de salsa.

A entrada principal, cuja apresentação levou muitos convidados a tirar o telemóvel do bolso para registar o prato apresentado

Mais um fado, mais uma degustação. Já com o paladar aguçado, eis que chega à mesa o prato principal: magret de pato acompanhado por puré de marmelo, grelos e uma redução de romã e Chave Dourada.

Este prato é um exemplo da utilização de produtos endógenos, com a presença de uma redução que contém o vinho maçaense Chave Dourada

E se uma imagem vale mais do que mil palavras, atrevermo-nos a desfazer estas obras de arte foi uma dolorosa e ousada tarefa.

Numa prova clara de que é possível aliar inovação a tradição e de que os produtos endógenos são dignos de marcar presença em menus de alta cozinha, terminamos a noite com morgadinhos à moda de Mação acompanhados pelas papas de carolo e um gelado de gin.

Um dos momentos mais esperados da noite: a chegada da sobremesa

9.ª Inauguração da Escola Pedagógica comprova a “oportunidade” de estudar em Mação

No final desta viagem pelo mundo da cozinha e da pastelaria, em que os sabores se fundiram das maneiras mais inesperadas, é momento de reflexão e importa dar relevância ao trabalho dos profissionais envolvidos na conceção do menu.

Falamos dos cerca de 50 alunos das três turmas do Curso Profissional de Restauração, Serviço de Cozinha/Pastelaria, sob a orientação dos chef's Bárbara Vieira, Raquel Rosa e Tiago Ramos, que escolheram o Agrupamento de Escolas Verde Horizonte, em Mação, para dar asas aos seus sonhos e apostar na sua formação profissional.

(E-D) Chef Bárbara Vieira, Chef Raquel Rosa e Chef Tiago Ramos, acompanhados pelo Diretor do Agrupamento de Escolas Verde Horizonte, José António Almeida

Jovens raparigas e rapazes que fizeram jus às expectativas, que foram “completamente superadas”, e que estão a adquirir “capacidade de trabalho”, conforme contou à Antena Livre a chef Bárbara Vieira.

A chef realçou a importância de transmitir aos alunos que “o mundo real é completamente diferente daquele que eles veem na televisão, e que temos de nos adaptar à realidade que existe”, e diz que o truque é “recriar, trabalhar, desenvolver novos sabores” sem nunca esquecer a “valorização dos produtos da região”.

Também com as expectativas altas nesta que foi a nona inauguração deste espaço pedagógico – que homenageou os técnicos de todos os cursos profissionais do agrupamento, que marcaram presença -  estava o diretor do Agrupamento de Escolas Verde Horizonte, José António Almeida, que sublinhou que “não há nenhum restaurante no país que inaugure tantas vezes como nós. Inauguramos todos os anos porque somos efetivamente todos os anos um restaurante diferente”.

José António Almeida, diretor do Agrupamento de Escolas Verde Horizonte, em Mação, durante o discurso de boas-vindas

O responsável realçou a excelência da aprendizagem neste agrupamento, que aposta “naquilo que é mais importante numa formação profissional, que é o exercício prático” bem como no trabalho diário para dar aos alunos “condições de trabalho, liberdade para experimentar e experiências que de outra forma não conseguiam”.

Classificando esta experiência como “uma sala de aula diferente” para os formandos, José António Almeida diz que “no caso da cozinha e pastelaria é à mesa que vemos a qualidade do trabalho. E foi isso que aqui marcámos”.

E as novidades marcam presença habitual neste agrupamento. José António Almeida anunciou que no próximo ano letivo os cursos de restauração lecionados em Mação vão passar a ter “tanto valor em termos formais como uma formação dada em Madrid, Paris ou Bruxelas”. Uma certificação internacional que vai permitir aos alunos ter carteira profissional válida não só a nível nacional mas também no espaço europeu.

Mas o lema que sobressaiu nesta noite foi o de que “não queremos que estudar em Mação seja uma fatalidade. Queremos que estudar em Mação seja uma oportunidade”. 

(E-D) Luiz Oosterbeek, Francisco Neves, Vasco Estrela e José António Almeida

Nesse sentido, o presidente da Câmara Municipal de Mação, Vasco Estrela, lembrou que é necessário “olhar para os territórios e ver como é que é possível ultrapassar os constrangimentos que têm” e deixou uma palavra de estímulo para a direção da escola, para que “não perca os bons hábitos”.

“É extraordinariamente importante fixar estes alunos no nosso concelho, receber alunos de outros concelhos e permitir que esta escola reúna toda a comunidade”, destacou o autarca que não ficou indiferente àquilo que tem sido “a dinâmica” e “os resultados que vão sendo alcançados”, graças ao trabalho de profissionais, aos quais deixou uma palavra de gratidão.

Mostrando que vai continuar a existir um “canal aberto entre a autarquia e a escola”, o responsável garantiu a continuação de uma parceria como reconhecimento da importância do agrupamento para a educação no concelho.

Vasco Estrela deixou por fim uma mensagem aos protagonistas da noite, os alunos, para que “possam aproveitar a formação e percebam que estão a ficar com uma ferramenta fundamental para o vosso futuro: têm todas as condições para serem mulheres e homens de futuro”.

“Gostaria muito que ficassem no nosso concelho - bem sei que é um bocadinho ilusão aquilo que estou a dizer - mas pelo menos espero que nunca esqueçam que foi aqui que aprenderam e que encontraram ferramentas para o vosso futuro. Nunca percam as raízes e nunca se esqueçam que foi na escola de Mação que aprenderam aquilo que provavelmente será a vossa profissão de futuro”, concluiu.

Também presente neste jantar esteve Francisco Neves, delegado regional da Direção-Geral dos estabelecimentos escolares de Lisboa e Vale do Tejo, que considerou ser “gratificante saber que o que fazemos à distância tem efeitos e com a qualidade que é aqui possível observar” e que não deixou de se dirigir aos alunos, transmitindo-lhes a mensagem de que “o ministério da educação está atento, disponível para valorizar e grato aos diretores das escolas e aos formadores por aquilo que resulta do trabalho conjunto, que é esta mão cheia de profissionais que vão sair daqui seguramente com uma qualidade que não deixa nada a desejar relativamente àquilo que se faz nos centros de maior dimensão”.

Uma mensagem importante que o delegado regional quis deixar passou precisamente pela “ilusão que é pensar-se que uma boa formação é aquela que se adquire em contextos urbanos e que estas formações feitas em escolas do interior não criam qualidade: muito pelo contrário”.

Já Luiz Oosterbeek, professor coordenador do Instituto Politécnico de Tomar, diretor do Museu de Mação e presidente do Instituto Terra e Memória, deixou uma mensagem simples mas poderosa aos alunos: “O que é preciso é ser feliz e o grande segredo é que nós somos felizes quando fazemos felizes os outros. E eu acho que isso se aprende nesta escola”.

“A qualidade da vida constrói-se com pequenos passos, com humildade, com muita seriedade, dedicação e paixão, e isso é o que eu tenho visto nesta escola os anos todos”, terminou.

De barriga aconchegada e balanços feitos, ficou a promessa por parte do diretor do agrupamento de continuar a “trabalhar todos os dias para que façamos melhor” e a garantia de que a comunidade vai poder testar e aprovar a qualidade do trabalho aqui produzido, com a abertura do restaurante pedagógico ao público ao longo do ano “para que as pessoas possam vir aqui e por preços simbólicos possam provar e experimentar alguma da formação que aqui é dada aos nossos alunos".

 

Reportagem e fotorreportagem: Ana Rita Cristóvão