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CRÓNICA: «Responsabilidade social e responsabilidade empresarial» por Luís Barbosa!

22/06/2020 às 00:00
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SALPICOS DE CULTURA!

Quando em 2010 tive necessidade de entrar em contacto com a problemática da chamada Responsabilidade Social das Empresas procurei socorrer-me de obras que me permitissem perceber melhor o contexto em que me ia movimentar. Fiz o que é normal fazer-se. Informei-me sobre autores de referência, escolhi em diversas livrarias algumas obras e comprei uns quantos livros onde o assunto era tratado.A primeira constatação que pude fazer foi verificar que a problemática acima referida vivia paredes meias com as questões da ética. A segunda foi ver que em Portugal havia quem, há muito, já ao tema dedicasse tempo, e escrevesse boas obras.Uma das que mais me serviu de base para a minha formação nas questões da Responsabilidade Social foi escrita por António da Silva Rocha que nascido em Portugal, doutorou-se em Direito na Universidade espanhola de Santiago de Compostela.Repare-se bem que se no primeiro parágrafo refiro“Responsabilidade Social das Empresas”, neste último, o terceiro, escrevo apenas“Responsabilidade Social”.

Pois, esta foi a minha primeira forte constatação. Pensar na primeira problemática, implica obrigatoriamente ter em consideração a segunda, ou seja, todo aquele que se decidir por desenvolver um negócio, montando uma empresa, tem, obrigatoriamente de partir do pressuposto que o ato implica orientar os objetivos  a que se propõe, para a satisfação de princípios sociais de dimensão ética. Dito de outra maneira, montar uma empresa apenas com a preocupação de meter dinheiro ao bolso recorrendo a meios sem olhar a fins éticos, não satisfaz os propósitos sociais para que as empresas devem então ser constituídas.Claro que esta minha constatação não significou que tivesse achado estranhaa exigência anterior.

Porém, não posso deixar de referir que ao tempo, em 2010, as minhas experiências de vida haviam-me feito constatar que, em muitos casos, os negócios que fervilhavam um pouco por muitos sítios, inscreviam-se pouco nas exigências éticas, e privilegiavam mais o lucro meramente financeiro. O enriquecer a todo o custo estava na moda, e fazer com que as empresas contribuíssem para o bem-estar social era preocupação que apenas pertencia a um leque muito reduzido de bem feitores.Hoje já passaram uns quantos anos, e diz-se que os tempos são outros. Porém, o que se pode perguntar, é se ouvindo o que ouve nas rádios e televisões, e se lê nos jornais, é possível aceitar que o tal desígnio ético e social de orientar o funcionamento das empresas para o bem-estar social passou a ser de facto preocupação de maior dimensão. Eu tenho as minhas dúvidas, e as mesmas coincidem com aquilo que o autor acima referido dizia já à cerca de duas dezenas de anos. Na contracapa do seu livro, pode ler-se o que passo a citar:

            “Nos dias de hoje, em quase todas as conversas, emergem aspetos relacionadoscom a ética, a             deontologia e a responsabilidade social. Acontece à medida que surge qualquercrise. Não há vida sem crises. Existe uma multiplicidade decrises e de éticas eu se misturam e confundem       consoante a religião, acivilização, os usos ecostumes, a geografia: ética empresarial, ambiental,        social… e, depois, muito se fala daquilo que nem sempre verdadeiramente sesente, pratica,        respeita e reconhece.”.

Bem, ao reler o autor, dez anos de depois do que ele escreveu, encontro as minhas dúvidas mais satisfeitas. Contente com a constatação? Não, sobretudo porque vivendo um momento em que muito se fala de uma necessidade imperiosa de mudar de paradigma social, tenho a impressão que de facto, nem sempre o que é sentido por milhares de pessoas, é correspondido com práticas de governação empresarial que correspondam à preocupação de evitar crises sociais, ambientais e humanas, mesmo que e as mesmas se apresentem verdadeiramente avassaladoras. Pessimismo da minha parte? Julgo que não, até porque sou dos que acreditam no homem. Porém, a questão para mim é que não são as empresas que têm de mudar. Quem tem de proceder a mudanças éticas de fundo é, isso sim, o próprio homem. Só que para isso tem mesmo de parar para mudar de pensar.

Despeço-me com amizade,

Luís Barbosa*

*Investigador em psicologia e ciências da educação
SALPICOS DE CULTURA, uma parceria com a Associação Internacional de Estudos Sobre a Mente e o Pensamento (AIEMP)