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CRÓNICA: «Einstein, saber, mistério e magia» por Luís Barbosa

16/11/2020 às 12:00
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SALPICOS DE CULTURA…

 

«Einstein, saber, mistério e magia»

Agora que a Pandemia me obriga a estar mais tempo em casa, vou-me dedicando a arrumar coisas que vão ficando um pouco por aqui e ali. É um exercício que gosto pouco de fazer, mas que, diga-se, traz-me por vezes alguns benefícios.

Um deles, não raro, é de encontrar livros ou papéis que, por esta ou aquela razão, foram postos de lado, sem que por vezes lhes tivesse dado a devida atenção. Então, quando topo com um destes exemplares, acontece-me, também não raro, ficar a pensar porque razão a minha atenção, ao tempo, não deu a devida nota ao que no momento presente venho, de novo, a encontrar.Confesso que não é acontecimento que me deixe muito preocupado, não apenas porque o acho corrente, mas também porque falando com outras pessoas vejo que ele é corriqueiro.

Há dias, num dos cafés filosóficos em que gosto de estar presente, levantou-se a questão da importância da intuição no âmbito das chamadas pesquisas científicas. Alguém presente se lembrou de trazer à discussão um dos últimos programas televisivos onde regularmente se fala das descobertas espaciais que vão ocorrendo.

Um dos temas versou o facto de se ter chegado ao conhecimento de uma pedra que segundo dizem os cientistas será mais antiga que o diamante, outro rondou a questão de se ter chegado ao conhecimento de uma microestrutura que, existente algures,embora sendo muito pequena, é suposto que possa possuir uma energia capaz de formar um universo, e por fim alguém resolveu falar sobre a descoberta de água na Lua.

Claro que nestes encontros as conversas são como as cerejas, e das trocas de opiniões resulta quase sempre que novos e diversos temas vão sendo aflorados. Desta vez, as questões da intuição trouxeram à superfície a importância das intuições Einsteinianas, e como é normal quando deste investigador e cientista se fala, vem quase sempre à baila o seu carácter ficcionista. A conversa foi interessante, mas um dos pormenores prendeu mais a minha atenção que outros. É que, no meio das trocas de opiniões um dos intervenientes achou até que as descobertas de Einstein tinham, ao tempo em que as fez, algo de misterioso, mesmo até de mágico.

Bem, sobre o perfil do cientista já tinha ouvido muita coisa. Mas esta de Einstein poder ser um eventual mágico, confesso que não me ocorre que tenha ouvido. Dei boa atenção a quem avançava o argumento e fiquei a pensar com os meus botões naquilo que tinha ouvido. Perguntarão agora os interessados, que tem isto a ver com o facto de dedicar neste momento algum do meu tempo a arrumar coisas que vou deixando dispersas. Vou-me explicar.

No dia seguinte ao da conversa a que assisti no café filosófico, resolvi dar uma volta a alguns papeis onde em tempos de estudante fiz apontamentos diversos. O facto é que sobre Einstein lá encontrei duas ou três referências. Porém, o mais interessante é que sem que tenha deixado escrito qual o autor e a obra de onde tenha tirado a nota, topei com esta, escrita a lápis, que passo a transcrever:

“O mistério é a coisa mais nobre de que podemos ter experiência. É a emoção que se encontra no cerne da verdadeira ciência. Aquele que não sente essa emoção e que não pode mais se maravilhar nem se espantar, é como se já estivesse morto. Saber que aquilo que é impenetrável para nós verdadeiramente, existe e se manifesta como a mais alta sabedoria e a mais radiosa beleza, que nossas limitadas faculdades só podem apreender em suas formas mais primitivas, esse conhecimento, esse sentimento, está no centro de toda a verdadeira devoção. A experiência cósmica é com efeito o mais poderoso e mais nobre pivô da pesquisa científica.”.

Claro que depois de ter lido esta alusão, escrita pelo próprio Albert Einstein, fiquei ainda mais a pensar no que tinha ouvido no tal café filosófico. É que, nestas frases, o investigador e cientista deixa bem claro que muitas das suas intuições têm a ver com o facto de intuir experiências cósmicas e que, embora nada de mágico se vislumbre no seu pensamento, facto é também que a sua mente vive paredes meias com o que existe de misterioso. Se o podemos chamar de ficcionista ou não, é questão que deixo à consideração alheia. Porém, o que também constato é que muitas das suas descobertas, pese embora terem sido fortemente questionadas, são hoje evidências científicas. Aqui já estou, como diz o outro, “A Oeste Nada de Novo”, pelo que, se calhar, é bom reconhecer que o conhecimento científico pode também ter algo de mágico.

Despeço-me com amizade,
Luís Barbosa*

*Investigador em psicologia e ciências da educação
SALPICOS DE CULTURA, uma parceria com a Associação Internacional de Estudos Sobre a Mente e o Pensamento (AIEMP)